Castelo de Nossa Senhora das Neves

Matosinhos



Descrição

Largo do Castelo. Rampa do Castelo. Viela do Castelo. A toponímia local consagra o Forte de Nossa Senhora das Neves, em Leça da Palmeira, como estrutura castelar.

Quando os locais falam nele, falam sempre no “Castelo de Leça”, embora em rigor se esteja apenas perante um dos fortes edificados no século XVII com o objectivo de defender a costa portuguesa dos ataques de piratas vindos do Mediterrâneo ou da costa africana, de corsários provenientes da Biscaia e de outras paragens do resto da Europa ou da permanente ameaça castelhana.


O forte de Nossa Senhora das Neves é a grande marca do centro histórico da freguesia matosinhense de Leça da Palmeira e assistiu às transformações urbanas geradas à sua volta, muito embora ainda se mantenha, por ali, um cheirinho de uma Leça da Palmeira antiga. Não visível apenas na patine das muralhas da fortaleza, mas também em algumas habitações e nas estreitas ruelas que dali partem ou ali chegam. Bares como o “Costa do Castelo” e restaurantes com os sugestivos nomes de “Arquinho do Castelo”, “Degrau do Castelo” ou “A Flor do Castelo” apenas ajudam a confirmar que à volta da fortaleza se criou toda uma iconografia e se formatou uma memória colectiva.


O trabalho feito por Mário Barroca é, sem dúvida, o mais completo alguma vez elaborado sobre o Forte de Nossa Senhora das Neves e deixa pouquíssima margem para um desafio minimanente à sua altura. Não é este o objectivo deste trabalho, que obviamente se suporta, também, nas páginas dedicadas a esta fortaleza no livro “As Fortificações do Litoral Portuense”, e se mais não acontecer que pelo menos este esforço sirva para o seu autor ficar a perceber melhor “o castelo” junto ao qual brincou nos seus primeiros dez anos e junto ao qual perdeu dias interrogando-se, olhando para a bacia do Porto de Leixões, sobre o porquê de barcos de grande tonelagem flutuarem suavemente sobre as águas oleosas com a facilidade de uma gaivota cansada de bicar taínhas.


Como refere Mário Barroca, o ataque corsário ao Funchal em 1566 deu origem a toda uma política nacional de construção de fortes junto ao litoral, com ignição antes do período da Restauração, ainda durante a fase filipina. Bertrand de Montluc, o francês que comandou a tropa fandanga que assaltou o Funchal, foi, por isso, responsável não apenas por uma onda de destruição mas também se associou, indirectamente, a um movimento de construção. O aviso que deixou ao arrasar o Funchal (onde, em 1528, um navio biscaino roubou dois navios ancorados no respectivo porto) à frente de uma armada de onze galeões e comandando 1300 homens foi suficientemente...forte. Nenhuma outra cidade ou vila portuguesa do litoral quis, a partir desse momento, sequer sonhar com a possibilidade de viver 16 dias de terror, na lembrança também de que a investida corsária na Madeira lhe destruiu as reservas de açúcar e culminou com a morte de três centenas de pessoas, deixando no seu rasto famílias arruinadas. Contas feitas ao saque, terá rendido um milhão de cruzados.
A unir o episódio madeirense e o forte de Nossa Senhora das Neves há ainda um nome de uma figura grada da História de Portugal – João Gonçalves Zarco, um dos descobridores da Madeira, provavelmente natural de Leça da Palmeira (ou Tomar). Que hoje empresta o seu nome a uma das escolas secundárias de Matosinhos, a uma rua de Leça da Palmeira rasgada pela Via Rápida e a uma avenida de Matosinhos que rasga a malha citadina sob o eixo terra-mar.
Esta rede de pequenos fortes marítimos, construída durante o período da Restauração tendo como “leit motiv” a ameaça espanhola, estendeu-se da foz do Douro à foz do Minho, sendo conhecidas fortificações deste tipo em Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença, Monção – relativas a um primeiro movimento construtivo – e também em Lovelhe, Ínsua, Vila do Conde e Póvoa de Varzim. No foz do Lima, por exemplo, ergeu-se a chamada Torre da Roqueta, de que nos dá nota Carlos Alberto Ferreira de Almeida (em “Alto Minho”, 1987), uma estrutura que defendia a foz desse rio, mandada construir no reinado de D. Sebastião e melhorada por Filipe I, que a transformou em fortaleza. Num período posterior, recebeu transformações abaluartadas (1652) e revelins (1700). É um caso que tem com o forte de Nossa Senhora das Neves apenas pontos de contactos, mas que dele diverge claramente como estrutura progressivamente evoluída, enquanto o forte de Leça da Palmeira foi de raiz aquilo que ainda é hoje em termos arquitectónicos e de capacidade militar.

Localização

Largo do Castelo, Leça da Palmeira, 4450, Matosinhos

Latitude

41.1882980000

Longitude

-8.7025049000